O técnico de vôlei Walhederson Brandão Barbosa, de 40 anos, preso nesta terça-feira (14) suspeito de estuprar atletas adolescentes praticava os crimes há quase 20 anos. A informação é da delegada Joyce Coelho. Cerca de 12 vítimas já foram identificadas pela polícia e há a expectativa de que o número seja maior, segundo as investigações.
“Durante as investigações, descobrimos que ele pratica os mesmos crimes há quase 20 anos Então, dada a gravidade deste homem para com os alunos, precisávamos frear as suas atitudes”, falou.
A defesa do suspeito disse em nota que não teve acesso aos autos e que só vai se pronunciar após ter ciência das acusações.
A Operação Bloqueio, que resultou na prisão de Walhederson, ocorreu no início da manhã desta terça. Policiais civis da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente (Depca) prenderam o técnico de vôlei na casa dele, na Vila da Prata, na Zona Oeste. No momento da prisão, o homem foi encontrado dormindo com dois atletas, ambos de 15 anos.
A delegada enfatizou que, diante dessas informações, é necessário que outras vítimas compareçam à delegacia para denunciar, pois homens, com mais de 20 anos, comunicaram às autoridades policiais que teriam sido abusados pelo criminoso durante a infância e adolescência.
“O crime ainda não prescreveu, então as vítimas podem ir à unidade especializada e relatar todos os ocorridos. Agora chegou o momento de ele responder à criminalidade por todos os danos causados à integridade e segurança dos adolescentes”, salientou.
Joyce contou ainda que a busca e apreensão solicitada à Justiça, teve como base a informação de que o homem cooptava adolescentes do interior, com a mesma promessa, e os trazia para residir consigo.
Durante a investigação na residência do suspeito, foram encontradas seis vítimas e todas confessaram estar residindo no local, pois o homem alegava que desta forma a logística dos treinos seria mais acessível.
“Uma das vítimas é natural de Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros de Manaus) e iremos averiguar se a finalidade desta mudança seria a exploração sexual. Caso seja confirmada, ele será indiciado por tráfico humano. Além do cumprimento da prisão temporária, o suspeito também foi autuado em flagrante pois estava dormindo na mesma cama com dois adolescentes, de 15 anos”, contou.
Negligência dos pais
Ainda conforme a delegada, também será apurada uma possível negligência por parte dos responsáveis, já que um dos adolescentes mora com o técnico desde os 11 anos. No entanto, também foi percebido que não há conivência por parte da maioria dos pais, pelo contrário, há um excesso de confiança nas promessas ilusórias.
Joyce declarou que existe uma possível omissão por parte da Federação Amazonense de Voleibol, já que várias vítimas denunciaram formalmente e a Federação apenas instaurou sindicâncias internas, sem afastar o treinador do cargo, deixando-o ter acesso aos alunos.
“Iremos oficiar a Federação para que eles nos esclareçam a situação e nos respondam o porquê de não denunciarem os fatos à Polícia Judiciária, bem como nos encaminhem as sindicâncias”, pontuou.
Entidades se pronunciam
Em nota, a Federação Amazonense de Voleibol informou que a instituição não tolera qualquer tipo de assédio e o técnico foi suspenso:
“Seus profissionais devem ter, além da competência que o cargo exige, compromisso com a conduta pessoal. Enquanto as autoridades tomam as devidas providências, a FAV opta por suspender o referido técnico de todas as atividades oficiais desta federação, bem como suspender por tempo indeterminado o registro Nacional de treinador no Sistema Nacional de Registro”, diz a nota.
A entidade afirmou que não recebeu registros que indicassem a ocorrência dos casos registrados pela Polícia Civil: “A Federação Amazonense de Voleibol em nenhum momento, em busca de qualquer atitude nociva de treinador, encontrou qualquer tipo de ocorrência que nos levasse ao conhecimento das atitudes repugnantes do envolvido”, diz a instituição.
Também em nota, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) disse que determinou à Federação Amazonense de Voleibol o afastamento imediato de Walhederson Brandão Barbosa das funções, e que suspendeu o registro dele na entidade. “Não podendo ele atuar ou participar de nenhuma competição oficial de voleibol até que os fatos sejam devidamente apurados”, disse.
A CBV afirmou ainda que repudia qualquer tipo de assédio: “Trabalha de forma incessante por um ambiente pautado pela ética e pelo respeito, e livre de qualquer tipo de violência ou preconceito”, finalizou.
Por g1