O presidente da Associação Kapi e das Lideranças Tradicionais do Povo Sateré-Mawé (KAPI), doutor Josias Sateré, afirmou à reportagem que irá formalizar, por meio de documento oficial, o convite feito ao apresentador britânico Ed Stafford e sua equipe para visitarem a Aldeia Ponta Alegre, na Terra Indígena Andirá-Marau (AM), após a repercussão da denúncia feita pelo Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGTSM) e pela Coordenação Regional da FUNAI em Manaus. (Acesse aqui)
Segundo Josias, via telefone, nesta quinta-feira, 15 de maio de 2025, a presença de Stafford tem origem em um pedido antigo do artista indígena José Nizomar, conhecido como Tinico, para que fosse documentado seu trabalho cultural na comunidade. O Trabalho é feito pela KAPI e tem o britânico Ed Stafford como convidado e não como invasor, como trata o comunicado do CGTSM. “Há mais de cinco anos, o senhor Nizomar nos pediu que registrássemos a arte e a história que ele desenvolve aqui. Isso é memória viva. E ele expressou esse desejo diante de mais de 80 pessoas e lideranças, em uma grande reunião nos dias 8, 9 e 10 de abril deste ano aqui na Aldeia”, relatou.
Josias destacou que convites foram enviados ao Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGTSM), à FUNAI e a outros órgãos. “Convidamos todos os setores. Só que, por questões político-partidárias, não compareceram. A ausência foi deles, não nossa. Agora estão tentando fazer parecer que tudo foi feito no escuro. Isso é uma injustiça com o trabalho que desenvolvemos”, declarou.
Associação Kapi toda legalizada
Ele enfatiza que a organização indígena tem legitimidade para conduzir projetos culturais:
“A nossa entidade é autônoma. Temos parcerias com professores, assistentes sociais, pesquisadores, antropólogos, e até advogados. Não é qualquer projeto, é algo sério, pensado para as futuras gerações do nosso povo”.
A denúncia partiu do CGTSM, que afirmou ter recebido comunicado informal da presença de não indígenas e estrangeiros na Aldeia Ponta Alegre no dia 12 de maio. A entidade protocolou, em seguida, um pedido de informação e posteriormente a denúncia junto à FUNAI e ao representante dos povos indígenas na região. O coordenador local da FUNAI, João Melo Farias, notificou o grupo e deu um prazo de 24 horas para a saída voluntária do território.
Sobre a repercussão, Josias declarou: “Isso é um tipo de chantagem e pressão, pois nada foi feito no escuro. A verdade demora, mas sempre prevalece. Eles estão prejudicando o povo Sateré”, disse.
Além disso, ele criticou o secretário-geral do CGTSM, Erivelton Sateré: “Ele tem um escritório paralelo, faz denúncias de forma isolada e nunca nos procurou. Nossa sede é aqui, em Ponta Alegre. Ele não sabe o que está acontecendo na base. Um líder não pode jogar acusações nas redes sociais sem ouvir quem está aqui”.
“Isso prejudica o nosso trabalho. Eu, que recentemente me graduei, sou Doutor em Educação pelo povo Sateré-Mawé. Me senti afrontado. Vem um jovem desses, que não conversa com a gente, não vem aqui na aldeia, e não tem compromisso com o povo Sateré”, afirmou Josias.
Sobre os próximos passos, o presidente da KAPI afirmou Josias Satere que a organização está com reunião marcada para o dia 19 de maio, junto à FUNAI, para tratar da legalização do do convite burocrático: “Estamos seguindo todos os trâmites. Nossa organização vai formalizar tudo. E, sim, os nomes dos não indígenas que estiveram na aldeia serão oficialmente informados à FUNAI, como manda a lei”.
Erivelton Sateré, por sua vez, disse que irá publicar uma nota técnica sobre o caso. Segundo ele, está tranquilo, pois a Constituição e as notas técnicas da FUNAI são claras quanto à obrigatoriedade de comunicar a presença de estrangeiros em terras indígenas.



Texto: Hudson Lima
DRT 0001658-AM