“Não existe direita no Brasil, existe Bolsonaro. Graças a Deus que existe Bolsonaro. Tem gente que tem ânsia pelo poder, quer destruir ele de maneira velada para o cara se levantar e ser o líder”. A frase, proferida pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), resume o sentimento do clã Bolsonaro sobre Pablo Marçal (PRTB), influenciador e ex-coach que embaralhou a eleição municipal na maior cidade do país.
Nos últimos meses, o ex-presidente flertou com a candidatura de Marçal para pressionar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) a aceitar um bolsonarista como vice e também para enviar recados quando algum posicionamento do prefeito o desagradava. Nos últimos dias, porém, Bolsonaro reverteu o curso ao perceber a crescente popularidade do ex-coach entre seus eleitores. Aliados passaram a alertar o ex-presidente sobre a possibilidade de Marçal dividir o eleitorado de direita e se tornar um rival do bolsonarismo em eleições futuras.
“[O sentimento é:] como pode o Marçal conseguir avançar sozinho em São Paulo com o Bolsonaro apoiando o Ricardo Nunes e o Tarcísio mergulhado de cabeça na campanha do prefeito? E o Marçal vai e consegue ganhar sozinho, sem o apoio dos dois? [A eleição de São Paulo] se tornou até uma questão de honra e de disputa pelo público de direita”, disse uma parlamentar bolsonarista, sob condição de anonimato, ao Estadão.
O sucesso da estratégia de Marçal na próxima eleição dependeria do nome escolhido por Bolsonaro para sucedê-lo. Entre os cotados, estão os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União), Ratinho Júnior (PSD) e Romeu Zema (Novo). Da mesma forma, o alerta está ligado para a possibilidade de o ex-coach tentar o Senado por São Paulo em 2026 e rivalizar com Eduardo Bolsonaro. Aliados de Marçal, porém, dizem que ele não tem interesse em disputar o cargo.
Uma das frentes utilizadas pelo bolsonarismo para tentar desacreditar Marçal são as críticas feitas pelo influenciador a Bolsonaro quando ambos eram candidatos a presidente na eleição de 2022. O próprio ex-coach afirma que resolveu o “problema” com o ex-presidente quando se reuniu com ele no início de junho e recebeu a medalha de “imbrochável”, “imorrível” e “incomível” das mãos de Bolsonaro.
Marçal se coloca como um seguidor do ex-presidente, emulando trejeitos de Bolsonaro como chamar os filhos de “01?, “02? e “03? e se colocar como o único candidato antissistema. Ele também adere a pautas caras ao bolsonarismo, como o combate ao comunismo e críticas à Venezuela.
O presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, que aparece em um áudio revelado pela Folha de S. Paulo dizendo ter ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), já afirmou que a sigla defende “Deus, Pátria e Família”, lema utilizado por Bolsonaro.
Apesar disso, Marçal passou à ofensiva na quinta-feira para rebater as críticas feitas por Bolsonaro e de seus aliados. “Somos só NÓS (o povo e Deus) contra tudo e todos. A piada virou pesadelo e não vai ter segundo turno”, declarou o influenciador, enfatizando o pronome usado por Bolsonaro para desautorizá-lo, ao comentar o resultado da pesquisa Datafolha.
Antes, ele já tinha respondido ao ex-presidente nas redes. “Coloquei 100 mil reais na sua campanha para presidente, te ajudei nas estratégias digitais, fiz você gravar mais de 800 vídeos no Planalto. Entrei para a lista de investigados da PF por ter ajudar. Se não existe o ‘nós’, seja mais claro”, cobrou o influenciador.
Ao final do dia, porém, Marçal voltou a fazer acenos ao bolsonarismo. “Pensa que lindo em 2026: Bolsonaro presidente, Tarcísio governador, Marçal prefeito. Eu acredito nisso”, escreveu. “Bora arrancar o Nunes e Boulos do caminho. Depois juntamos todo mundo pra tirar o Luís [sic]”, finalizou.
Por TERRA