BRASÍLIA — O diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Andrei Rodrigues, disse na manhã desta quarta-feira, 04, que a corporação já fez novas apreensões de materiais após a publicação do relatório da Operação Contragolpe, que prendeu cinco pessoas acusadas de tramar, em 2022, a prisão e o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Moraes, que presidia o Tribunal Superior Eleitoral à época. Divulgado na última terça-feira (26), o relatório de 884 páginas indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas.
O relatório deixa algumas lacunas, como sobre a participação do ex-presidente Bolsonaro sabia do plano “Punhal Verde e Amarelo” para matar Lula, Alckmin e Moraes.
“Houve (novas) buscas e apreensões, houve apreensão de mais mídias, e houve também uma determinação recente do ministro relator (Alexandre de Moraes) para que se faça oitiva de determinadas pessoas. Então isso segue em trâmite”, disse Andrei Rodrigues. A fala foi durante um café da manhã com jornalistas no Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal, em Brasília. “Agora, com essa determinação de oitiva de novas pessoas, vai se cumprir e se encaminhar ao ministro relator”, disse. “Existe o inquérito principal que foi concluído, e as PETs, as petições. Anexo a esse inquérito há petições que guardam todas as diligências. Assim que são concluídas, essas diligências são anexadas a essas petições”, detalhou ele.
Na conversa, o diretor-geral da PF disse ainda que não poderia informar quem seria o “Juca”, codinome usado pelos militares investigados na operação Contragolpe para identificar um de seus alvos. No plano “Punhal Verde Amarelo”, Lula é identificado como “Jeca” e Alckmin como “Joca”.
Segundo Andrei, a corporação está trabalhando para concluir ainda este ano o inquérito relativo à chamada “Abin Paralela”. Trata-se de um suposto esquema criado por aliados de Jair Bolsonaro para monitorar ilegalmente adversários do ex-presidente, inclusive jornalistas, parlamentares e ministros do STF.
“Em relação ao inquérito da Abin Paralela, há um esforço para que seja concluído ainda este ano. Mas a investigação tem o seu tempo natural”, disse ele.
De acordo com o chefe da PF, há indícios de que os militares indiciados na Contragolpe usaram técnicas para dificultar as investigações da tentativa de golpe. Os militares teriam, inclusive, estudado a investigação do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, morta em 2018, para evitar deixar rastros, disse Andrei.
“O que se percebeu é que de fato havia técnicas para dificultar eventual investigação do que eles estavam fazendo”, disse. “Eles inclusive estudaram o caso Marielle para se evadir, para não deixar rastros”, afirmou.
“Todos os celulares eram habilitados em nome de terceiros. Eles não pegavam Uber (aplicativo de transporte). Um deles, que estava monitorando a casa do ministro Alexandre de Moraes, levou meia hora caminhando porque não podia pegar Uber”, disse Andrei.
Novas contratações em 2025
Na conversa com jornalistas, Andrei disse ainda que uma das metas da Polícia Federal para 2025 é realizar um novo concurso para repor servidores da corporação. O efetivo da Polícia Federal hoje é de pouco mais de 14 mil pessoas, disse o diretor-geral, número 2% inferior ao do ano passado.
A meta do concurso é contratar 1.800 novos policiais e 700 agentes administrativos, disse ele. A corporação também está tentando ampliar o próprio orçamento para 2025 em cerca R$ 800 milhões, disse ele.
Delegado da Polícia Federal há pouco mais de 20 anos, Andrei Augusto Passos Rodrigues é gaúcho de Pelotas. Foi Secretário Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos e atuou na investigação do caso Marielle Franco, além de ter sido responsável pela segurança do então candidato Lula nas eleições de 2022.
Por Estadão