Primeiros dinossauros podem ter surgido na Amazônia, aponta estudo

Eles provavelmente surgiram em uma região equatorial quente no que era então o supercontinente Gondwana - uma área de terra que abrange a Amazônia, a bacia do Congo e o deserto do Saara hoje - dizem os pesquisadores

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Conceito artístico de Gondwanax paraisensis em uma paisagem triássica do atual sul do Brasil. Ele viveu quase 10 milhões de anos antes de qualquer outro dinossauro conhecido  — Foto: Matheus Fernandes Gadelha
Conceito artístico de Gondwanax paraisensis em uma paisagem triássica do atual sul do Brasil. Ele viveu quase 10 milhões de anos antes de qualquer outro dinossauro conhecido — Foto: Matheus Fernandes Gadelha

Os vestígios dos primeiros dinossauros podem estar sob solo brasileiro, na floresta Amazônica e em outras regiões equatoriais da América do Sul e da África, de acordo com um novo estudo liderado por pesquisadores da UCL (University College London).

Até então, os fósseis de dinossauros mais antigos já encontrados datam de cerca de 230 milhões de anos e além do Brasil, foram desenterrados em países como Argentina e Zimbábue. Mas as diferenças entre esses vestígios sugerem que os dinossauros já estariam evoluídos há algum tempo, apontando para uma origem milhões de anos antes.

O novo estudo, publicado na revista Current Biology, aponta lacunas no registro fóssil e conclui que os primeiros dinossauros provavelmente surgiram em uma região equatorial quente no que era então o supercontinente Gondwana – uma área de terra que abrange a Amazônia, a bacia do Congo e o deserto do Saara hoje.

“Os dinossauros são bem estudados, mas ainda não sabemos realmente de onde eles vieram. O registro fóssil tem lacunas tão grandes que não pode ser tomado pelo valor de face”, diz o autor principal, Joel Heath, do Museu de História Natural e Ciências da Terra da UCL

Ele também ressalta que a modelagem do estudo “sugere que os primeiros dinossauros podem ter se originado no oeste de Gondwana, de baixa latitude. Este é um ambiente mais quente e seco do que se pensava anteriormente, composto por áreas desérticas e semelhantes a savanas”.

De acordo com o pesquisador, até o momento, nenhum fóssil de dinossauro foi encontrado nas regiões da África e da América do Sul que já formaram esta parte do Gondwana. No entanto, ele argumenta que isso pode ter acontecido porque os pesquisadores ainda não encontraram as rochas certas, devido a uma mistura de inacessibilidade e uma relativa falta de esforços de pesquisa nessas áreas.

O estudo de modelagem baseou-se em fósseis e linhagens evolutivas de dinossauros e seus parentes próximos, bem como na geografia do período. Ele contabilizou lacunas no registro fóssil tratando áreas do globo onde nenhum vestígio foi encontrado como informações ausentes, em vez de áreas onde não existem fósseis.

Inicialmente, os primeiros dinossauros eram amplamente superados em número por seus primos répteis.

Estes incluíam os ancestrais dos crocodilos, os pseudosuchianos (um grupo abundante que inclui espécies enormes de até 10 metros de comprimento) e os pterossauros, os primeiros animais a evoluírem o vôo motorizado (voando batendo as asas em vez de planar), que chegaram ao tamanho de caças.

Em contraste, os primeiros dinossauros eram muito menores do que seus descendentes – mais do tamanho de uma galinha ou cachorro do que de um Diplodocus. Eles andavam sobre duas pernas (eram bípedes) e acredita-se que a maioria tenha sido onívora.

Os dinossauros se tornaram dominantes depois que erupções vulcânicas exterminaram muitos de seus parentes répteis há 201 milhões de anos.

Após surgirem em Gondwana eles poderiam ter se irradiado para fora, espalhando-se para para a Laurásia, o supercontinente adjacente do norte que mais tarde se dividiu em Europa, Ásia e América do Norte, aponta o estudo.

O suporte para essa origem vem do fato de ser um ponto médio entre onde os primeiros dinossauros encontrados no sul do Gondwana e onde os fósseis de muitos de seus parentes próximos foram descobertos ao norte da Laurásia.

Como há incerteza sobre como os dinossauros mais antigos estavam relacionados entre si e com seus parentes próximos, os pesquisadores executaram seu modelo em três árvores evolutivas propostas.

Eles encontraram o suporte mais forte para uma origem gondwana dos dinossauros no modelo que contava os silesaurídeos, tradicionalmente considerados primos dos dinossauros, mas não os próprios dinossauros, como ancestrais dos dinossauros ornitísquios.

Os ornitísquios, um dos três principais grupos de dinossauros que mais tarde incluíram os herbívoros Stegosaurus e Triceratops, estão misteriosamente ausentes do registro fóssil desses primeiros anos da era dos dinossauros. Se os silesaurídeos são os ancestrais dos ornitísquios, isso ajuda a preencher essa lacuna na árvore evolutiva.

“Nossos resultados sugerem que os primeiros dinossauros podem ter sido bem adaptados a ambientes quentes e áridos. Dos três principais grupos de dinossauros, um grupo, os saurópodes, que inclui o Brontossauro e o Diplodocus, parecia manter sua preferência por um clima quente, mantendo-se nas latitudes mais baixas da Terra”, explica o autor sênior, Philip Mannion, professor de Ciência da Terra na UCL.

Para ele, as evidências sugerem que os outros dois grupos, terópodes e ornitísquios, podem ter desenvolvido a capacidade de gerar seu próprio calor corporal alguns milhões de anos depois, no período Jurássico, permitindo que eles prosperassem em regiões mais frias, incluindo os pólos.

Os primeiros dinossauros conhecidos incluem Eoraptor, Herrerasaurus, Coelophysis e Eodromaeus.

Por O Globo

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